“Estarei na praia” em Copacabana participando de um evento que reúne brasileiros dos quatro cantos do país. Um evento onde, entre nós, não há diferença. Sexta-feira, Brasília. “Entre nós, não há diferença” é a confissão brasileira dos sonhos vívidos de fascismo de Bolsonaro, evidenciados mais do que nunca nas ações que sequestraram ele e seus seguidores fanáticos em 7 de setembro de 2022, centenário da Independência.
Porque não somos todos iguais: o Brasil é multifacetado onde quer que você olhe. Somos indígenas, negros, negros, brancos, católicos, judeus, candomblecistas, umbandistas, ateus, muçulmanos, evangélicos, agnósticos, kardecistas, (muitos e muitos) pobres, ricos e poucos, ricos. E somos filhos de pais solteiros, filhos de pais divorciados, temos famílias LGBTQIA+. Cultivamos soja, mas também arroz orgânico e outras culturas comestíveis – e muitos de nós gostariam de ter comida. Adoramos carnaval, mas também música sertaneja, rotten rockers, hip hop, funk – ou nada disso. Discordamos sobre o aborto: uma parte importante da sociedade protege seu direito nas circunstâncias previstas em lei. Muitos de nós gostariam de discutir a liberação de drogas. E votamos em muitos partidos e políticos diferentes.
contra a diversidade da sociedade que estamos construindo que o bolsonarismo respondeu ontem. Se 7 de setembro de 2021, com caminhões tentando atacar o prédio da Suprema Corte, foi um golpe aberto, 7 de setembro de 2022 ficará para a história como um ato de fascismo aberto.
Já havia muitos sinais de fascismo no bolsonarismo: desde o slogan eleitoral que copia o slogan do Interalismo, o entusiasmo maniqueísta pela “luta entre o bem e o mal”, a ideia do líder como a última salvação possível, a simbiose entre a população. do presidente e símbolos do país, mais abertamente na dedicação da bandeira e das camisas da seleção brasileira de futebol ao bolsonarismo.
Ontem, o presidente e seu candidato à reeleição sequestraram um dia público simbólico para ele e sua família. Pior ainda, isso tem sido feito com abuso de poder político, usando eventos estatais para promover pessoas, investir e financiar muito dinheiro público.
O que vimos não foi uma manifestação popular, mas uma manifestação de certa parcela da população brasileira. Ao longo da Avenida Atlântica e Esplanada dos Ministérios, vimos uma maioria de brancos, em sua maioria homens, fanáticos pelo discurso sectário, agressivo e religiosamente atraente de Bolsonaro. São pessoas que por vários motivos sentiram falta da ditadura militar, gostariam que o presidente levantasse os militares para prender os ministros do Supremo Tribunal Federal que tomam decisões que não gostam, acham que todos nós temos que viver sob eles. um credo religioso.
por causa deles, e só por causa deles, que Bolsonaro está no poder. Ao instalar o Ministério da Cultura e dar seu saque a uma jovem celebridade, ao chamar o Ministério da Educação de uma série de idiotas nunca vistos antes de fascismo para colaborar com professores evangélicos acusados de corrupção em nome do presidente, ao colocar o Fundão Palmares no nas mãos de um sabotador da organização negra, a mensagem é clara: haverá um governo só para aqueles como eu também. Sem falar na Funai, no Ibama, na destruição da compra de vacinas contra a covid-19.
Ontem, Bolsonaro deu um passo à frente: colocou a imagem da formação do país no trabalho de sua missão e contra todas as outras bandeiras políticas. Não se trata mais apenas de atirar, mandar os vermelhos para a beira do mar, mas como disse, obrigar os poucos a se curvarem, a maioria ou desaparecer.
Nas democracias, a minoria nunca é forçada a se curvar à maioria. Mas quantos estão bajulando o presidente como vimos ontem nas ruas do país? Se olharmos para os votos eleitorais, não muitos: 49% dos eleitores brasileiros consultados pelo IPEC no início de setembro disseram que não votariam em Bolsonaro; 57% discordam de seu estilo de gesto e apenas 30% acham que ele administra bem. Mesmo com a ajuda do Centro para orquestrar o maior pacote de benefícios pré-eleitorais da história da democracia brasileira, Bolsonaro não lidera as pesquisas em sua candidatura à reeleição. Uma aparente tentativa de comprar a simpatia dos eleitores mais pobres fracassou até agora.
Não importa. O bicentenário de 7 de setembro foi só deles, embora tenha sido pago por todos nós. Foi distribuído em rede nacional com estrutura e qualidade técnica pela Empresa Brasil de Comunicação, EBC. Consumiu toneladas de combustível para jatos, helicópteros e navios de guerra para servirem de cabos eleitorais de Bolsonaro. Em Brasília, o palco reservado às autoridades deu destaque ao vilão de Luciano Hang, o velho havaiano, apoiador e financiador do bolsonarismo. Ele entrou vestindo seu terno verde e foi aplaudido pelos manifestantes. Além de parecer um papagaio, brincou com um, pendurado ao lado de Bolsonaro durante o evento. Hang, alvo de uma investigação do STF por supostamente trabalhar para o golpe de Estado, passou mais tempo sob os holofotes do que o presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, convidado de honra do evento em Brasília.
Por outro lado, os brasileiros que não se associam a Bolsonaro foram aconselhados a não ir às ruas. Em Brasília e em outras cidades, movimentos sociais de esquerda realizam o Grito dos Excludos há muitos anos, todo dia 7 de setembro. O ex-presidente Lula, como esperado, avisou que não iria. Temia-se que sua presença fosse vista como ofensiva – O Grito dos Excluídos na capital ocorreu a cerca de dois quilômetros da Esplanada dos Ministérios. Em Copacabana, casais gays, por precaução, apertaram as mãos. Parece razoável? Esse não é o caso.
Somente com as ruas, o fascismo bolsonarista permaneceu adormecido e desmoronou em Copacabana e Brasília. Circularam faixas pedindo que não houvesse eleições, que os opositores políticos fossem presos, que outros poderes fossem exercidos pelo presidente e que os militares fossem usados em um golpe de Estado. A certa altura, o locutor que mostrou os equipamentos elétricos do pastor Silas Malafaia leu os cartazes colocados à sua frente. Outro disse “Supremo o povo”, o que é um insulto óbvio ao Supremo Tribunal – e abre outra ideia fascista, de que a democracia pode se sobrepor à lei ou aos direitos das minorias. Era um sinal para o locutor dizer novamente: “Vocês são pessoas muito altas, viu, Xando? V, Fachin? Mais claramente, impossível.
Mas não haveria como encerrar esta análise do trágico espetáculo do fascismo brasileiro no século XXI sem destacar o trágico papel desempenhado pelas Forças Armadas brasileiras. Ao lado do Castelo de Copacabana (de onde 18 tenentes tentaram um golpe de estado em 1922), havia um palco reservado para um evento militar que Bolsonaro mandou acender seu partido político especial. Outra característica proeminente do fascismo, afinal, é o uso dos militares como meio de demonstração de poder para coagir um líder autoritário a intimidar inimigos internos: ou seja, qualquer um que se oponha a ele.
Sob o pretexto de comemorar o bicentenário da Independência, o canhão disparou salvas durante todo o dia no Rio. Na Baía de Guanabara, navios e um submarino da Marinha foram mostrados logo após a atracação dos jet skis e lanchas da elite bolsonarista. Aviões da Força Aérea Brasileira e um grupo de fumaça sobrevoaram, encantando a multidão presente em Copacabana. O problema era que não havia como separar o evento oficial do ato político de Bolsonaro, eles eram, previsivelmente, um. Pouco depois do meio-dia, quando um helicóptero da Marinha sobrevoou o mar carregando uma gigantesca bandeira brasileira, houve um alvoroço da multidão bolsonarista. No alto de um dos três bondes, o locutor ordenou que parassem de tocar o funk em louvor a Bolsonaro que saiu dos alto-falantes e disparou: Olha! Nossa bandeira nunca será vermelha!
Representados pelo coringa do ministro Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira – em si uma completa caricatura, na aparência, no espírito e no hábito de gritar, da rebelde república das bananas – os soldados entregaram-se mansamente ao papel de apoiadores. O golpe de Bolsonaro e a micareta fascista.
Porque a maioria dos brasileiros, que ontem não esteve em Copacabana e – segundo 100% das pesquisas críticas – se recusam a continuar esse desastroso governo militar, sentem-se envergonhados e ofendidos por mais um pedaço de papelão de suas Forças Armadas. E espera que a partir de agora o ministro Paulo Srgio, e os atuais comandantes do Exército, general Marco Antônio Freire Gomes, da Marinha, almirante Almir Garnier Santos, e da Aeronáutica, brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Junior, sejam condenados . passar a eternidade ao lado de pessoas como Carlos Alberto Brilhante Ustra na lata de lixo da história.
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