“É raro um cliente me procurar com uma suspeita, eu faço a investigação e não acontece nada”, diz a detetive particular Patrícia Karany, 48, paulistana, há 30 anos na área. Ela começou a bisbilhotar os namorados dos amigos e, pelo boca a boca, seu público cresceu. Formada em Direito, viu-se fisgada pela investigação privada e nem chegou aos tribunais.
Patrícia entrou nessa profissão, segundo ela, porque sempre gostou de cuidar da vida dos outros. “Enquanto alguns fazem isso secretamente, eu não. Sempre fui observadora, principalmente com relacionamentos. Meu trabalho é divertido”, diz ela em entrevista ao UOL.
Acostumada a desvendar casos de adultério, Patrícia conta que ainda há histórias que a chocam. Uma delas é encontrar uma mãe com o marido, noivo ou namorado da filha – algo que, segundo ela, está acontecendo cada vez mais.
“Uma cliente me pediu para investigar seu marido e descobri que ele estava saindo com a mãe dela. Ela me chocou, mas e um marido, noivo, namorado namorando a sogra… não sei o que está acontecendo”
Nesse caso específico, o que mais surpreendeu o detetive é que a mãe era uma senhora que parecia não ter vaidade. Orientada por Patrícia, a cliente fingiu que foi trabalhar, mas logo depois voltou para casa e encontrou a mãe e o marido na cama. “Minha funcionária que estava de guarda só soube do que aconteceu dentro de casa porque saiu gritando, chutando a mãe como um cachorro. Eles estavam realmente tendo um caso”, diz ela.
Este não foi seu único caso incomum nos últimos 30 anos. Patrícia conta que um advogado de sucesso, casado e com filhos, a chamou para investigar seu amante: outro homem casado e com filhos. O relacionamento deles durou 10 anos e ele suspeitava de uma traição. “Perguntei como a esposa nunca percebeu e ele disse que eram muito discretos. Disseram que iam ao bar ou ao futebol, mas na verdade iam ao motel. Eu investiguei e peguei esse segundo homem namorando um colega de trabalho dele”, diz ela.
Patricia também lembra a história de um cliente casado, que saiu com uma mulher casada, que suspeitava que ela tivesse um segundo amante. “Ele suspeitava que ela estava saindo com outro cara da empresa. Fizemos a investigação e sim, ela estava namorando outro homem”, diz ela. Nem mesmo os traidores gostam de ser traídos.
Em alguns casos, ela já teve que alugar uma van para passar despercebida no local de observação e abrigar discretamente um dos 20 agentes que trabalham para ela. Por causa da alta demanda — ela diz atender em média de 8 a 10 casos por mês — e por dar dicas e pessoas acabando com outros profissionais, hoje Patrícia cobra até a consulta inicial. Atualmente, esse valor é de R$ 400.
Para saber se você está sendo enganado ou não, o valor a pagar é bem alto. Afinal, segundo ela, as pessoas querem resolver problemas, não consertar mais um. A empreiteira recebe informações e fotos em tempo real, o que garante a agilidade das descobertas.
“Os valores variam de R$ 5.000 a R$ 10.000, quando se trata de um trabalho simples, como vigiar, por exemplo. É um valor alto porque temos que ter qualidade e bons profissionais para manter a confidencialidade”
O tempo necessário para desvendar um caso varia. Patrícia já flagrou o ato na primeira hora do primeiro dia de investigação, mas conta que já teve casos em que não conseguiu o ato mesmo depois de semanas porque o amante estava passando uma temporada na Europa. Por isso, alerta ela, não há um tempo definido para definir quando um caso será resolvido.
Mesmo com uma equipe experiente, às vezes, apenas a mão do chefe resolve o problema. “Há uns dois ou três meses, minha equipe precisou colocar um rastreador no carro de uma mulher investigada em Porto Alegre. Em 10 dias, não conseguimos avançar. Peguei um avião e em duas horas resolvi tudo”, conta.
Ao chegar na cidade, bastou para a amiga que a acompanhava fingir que havia torcido o pé na frente da casa do investigado. A mulher atendeu e os colocou dentro da casa. “Precisávamos entrar para descobrir se havia material roubado dentro da casa. Eram peças grandes. Até consegui imagens dos produtos roubados. Foi uma coisa momentânea, mas acho que tenho muita sorte.”
Reclamações e ameaças
Quando a descoberta é de um crime, a situação é mais delicada. Ela já pegou um homem de 60 anos que abusou de crianças de 11 e 12 anos. “Entrego as conclusões das minhas investigações a quem me contrata, não à polícia. Tenho um contrato que contém uma cláusula de confidencialidade. Mas, neste caso, pedi autorização e denunciei à polícia”, conta.
Há até quem a tenha ameaçado e jurado vingança após suas descobertas. Uma mulher estava traindo o marido e foi pega no meio da rua. “Encontrei ela dando uns amassos com o amante e entreguei fotos para o marido. Ela me ligou xingando, dizendo que eu não sabia nada da vida dela, que faria um BO”, conta. Mas como as imagens foram tiradas em local público, ela não teria como denunciar. Então Patrícia ficou tranquila.
“Nada vai para o lado ilegal”, garante
Como investigar a vida dos outros e permanecer dentro da lei? Patrícia garante que é possível. “Há patrões que querem colocar um rastreador na frota de veículos sem que os funcionários saibam. Mas ele é o dono do carro, então ele pode. Se você é casado, o casamento é uma parceria. Se vocês moram juntos e colocam câmeras e insetos em sua casa, a casa é sua. O carro é o mesmo. Nada vai para o lado ilegal”, diz Patricia.
Uma tática para evitar cair, por exemplo, na Lei de Perseguição, é variar os agentes atribuídos ao mesmo caso. “Ninguém pode provar uma rotina com meus agentes. A perseguição é rotineiramente comprovada, a pessoa rotineiramente perseguida pela mesma pessoa. Meus agentes nunca são os mesmos, às vezes mudo o horário duas ou três vezes por dia”, conta Patrícia.
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