A agricultora Ivone Valéria da Silva, 45 anos, tem que caminhar 4 quilômetros de sua casa até uma pequena lagoa de lama na comunidade de Itapeipu, Jacobina, no interior da Bahia, para coletar água. Além do buraco em casa, ela e o marido, Julivaldo de Jesus, 38, fazem essa viagem todos os dias. “Temos um burro e uma carroça. Eu uso essa água para beber, cozinhar e tomar banho”, disse ela, mostrando a água suja que guarda em um tanque de apenas 200 litros.
Nos últimos quatro anos, o governo federal desacelerou e em 2022 parou a construção de cisternas, que é a tecnologia básica para garantir o abastecimento de água às famílias que vivem com a seca.
Os tanques utilizados pela população são grandes caixas d’água com capacidade para armazenar 16.000 litros de água da chuva ou colocadas por caminhões pipa (em épocas de seca). Nesse caso, para armazenar a água da chuva, são instaladas calhas próximas ao telhado que despejam o líquido diretamente na fossa.
Nos últimos meses, o governo só executou contratos antigos ou fez tanques com o dinheiro reservado para a emenda parlamentar. Em junho, o programa entregou apenas 18 equipamentos, o pior recorde desde que foi lançado no final de 2003. Entre 2003 e 2018, o governo federal entregou 929 mil caixas d’água para uso público (além desse tipo, há também produtiva e escolar, ambas com capacidade para armazenar 52 mil litros de água). No governo de Jair Bolsonaro (PL), de janeiro de 2019 a junho deste ano, foram apenas 37,6 mil. O número de dispositivos entregues vem diminuindo a cada semestre desde 2018.
O baixo número de empregos está diretamente relacionado ao baixo nível de investimento do governo. Além de colocar menos dinheiro no orçamento, o governo não tem implementado as taxas previstas. Em 2020, por exemplo, foram destinados R$ 74,7 milhões ao orçamento, mas apenas R$ 2,5 milhões foram gastos. Este ano, até o dia 21, apenas R$ 160 foram mortos.
Despesas com cisternas:
2019
- Fatura: R$ 75.000.000
- Executado: R$ 67.048.067
2020
- Conta: R$ 74.700.000
- Executado: R$ 2.557.629
2021
- Fatura: R$ 61.242.000
- Executado: R$ 32.238.447
2022
- Conta: R$ 37.072.015
- Executado: R$ 160.611
Para o ano de 2023, o PLA (Projeto Orçamentário Anual) enviado por Bolsonaro ao Congresso traz um orçamento ainda menor: R$ 2.283.326, que custeia menos de 500 equipamentos – que custa em média R$ 5 mil entre trabalhadores e material. A coluna buscou comentários do Departamento de Estado sobre os cortes orçamentários e entrega das sepulturas, mas não respondeu até a última atualização deste documento.
À espera de uma cisterna
A falta de um poço causa problemas para quem vive no deserto. Ivone da Silva conta que a água que ele traz do barreiro ainda serve para manter uma pequena roça de acerola, banana, tomate e coco.
Sem usar energia no campo por falta de água, ele não consegue produzir o suficiente para vender e aumentar sua renda. É por isso que sua família – que inclui um filho de 17 anos e um neto de 9 anos na mesma casa – sobrevive apenas no Auxílio Brasil.
A realidade de Ivone é parecida com a de outras famílias do árido nordeste. A aposentada Maria José da Silva, 62, também tem um trabalho difícil.
“Minha vida todo dia eu pego um carrinho ou carrinho de mão para pegar água e levo de um balde para outro, começo às 5h e termino às 10h”, disse ela, que mora com o marido.
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